“Queres ver as fotos que eu tirei?”

O que fazer com as fotos e videos de viagem é um grande problema tanto para quem está voltando de viagem quanto para os amigos e parentes que ficaram.

Antigamente, com 36 “poses” em cada rolo de filme fotográfico, a gente se continha um pouco mais. Não saía fotografando tudo, a toda hora. Mas depois que colocaram as câmeras nos celulares e a turma descobriu que cabem milhares de fotos na memória, ninguém mais tira o dedo do disparador.

Como resultado, a pessoa chega de viagem com trocentos milhões de fotos e um caquilhão de videos. E aí começa o problema, sobre o qual falaremos um pouco aqui hoje: como fazer para mostrar esses registros de viagem, sem chatear os amigos e incomodar os parentes?

Saguão do The Fairmont Royal York, Toronto, CA.

PRA QUE TANTA FOTO?

É muito natural esse impulso de querer registrar os lugares novos por onde andamos. E é meio inevitável exagerar, ainda mais agora, que não existem despesas automaticamente ligadas ao ato de fotografar: não precisa comprar rolos de filme, não precisa pagar pela revelação. Uma vez adquirida a câmera, a foto acaba saindo “de graça”. E tanto faz dez ou duzentas.

O resultado, na maioria das vezes, é que as fotos ficam esquecidas, jogadas num cartão qualquer de memória, no fundo de uma gaveta. E que ninguém as vê. Ou, pior, acabam sendo apagadas quando é preciso liberar espaço na memória do celular ou do pen drive, ou do disco.

O contrário também acontece, ainda que mais raramente: a pessoa fica tão cuidadosa que deixa de fotografar alguns lugares, monumentos e passeios. E aí, quando volta e quer mostrar, tem que recorrer ao google pra ver se acha memórias alheias.

As fotos (e videos) são muito importantes. Não para se exibir, mas para lembrar. Passados alguns anos, quando a gente volta a olhar aqueles álbuns, viaja de novo. É uma boa sensação, rever nas fotos os lugares que visitamos. Mesmo que não se pretenda, ou não se possa, voltar. E, se estiverem organizados, ajudam a contar histórias. E a preparar as viagens de outras pessoas.

Eu, apoiado numas pedras bem antigas, diante de um arco de tijolos.

“Ó EU NA FOTO”

Muitos viajantes acham que devem aparecer em todas as fotos. Que não adianta fotografar o Coliseu se ele, ou ela, ou eles, não estiverem enquadrados. Parece que ficam com medo de que os amigos não acreditem, se virem apenas a bela foto que tiraram das ruínas. Donde o exagero de selfies.

Uma vez, em Amsterdam, vi uma moça, oriental, sozinha, cumprindo um ritual solitário: com a câmera num tripé, ela ia se fotografando em poses, caras e bocas, nos vários cenários da cidade. Mais tarde, com a invenção do “pau de selfie”, o tripé ficou obsoleto: é possível se fotografar sem ajuda.

Claro que é bom ter uma ou outra foto nos lugares visitados, mas se a gente for pensar que um dia talvez vá mostrar as fotos para outras pessoas e contar uma história sobre a viagem, pode ficar meio esquisito: “aqui sou eu diante da torre Eiffel, aqui eu diante da Notre Dame, aqui eu na porta do restaurante, aqui eu segurando o garfo, aqui eu na fila do Louvre”. Os amigos e parentes nos conhecem, nos vêem sempre, não precisam ver nossa foto atrapalhando cada uma das paisagens.

O Vesúvio, visto das ruínas de Pompeia, no sul da Itália.

A NARRATIVA, A HISTÓRIA, A AVENTURA…

Desde os tempos imemoriais o ser humano, quando se aventura em terras estranhas, vai até lugares que habitualmente não frequenta, volta cheio de histórias. E as viagens são, mais que nada, uma forma de abastecer-nos de histórias, de vivências, de emoções.

Por isso, acho importante considerar as fotos e os videos feitos durante o passeio, como complementos visuais úteis para que eu possa contar, ao voltar, o que vivi e aprendi. Ilustrações que compõem uma narrativa, que ajudam e nos ajudam, a entender melhor o que representou aquela “aventura”.

O viajante que pensa em mostrar as fotos para se exibir, é um pobre de espírito. Pra mim, se assemelha aquele que só pensa em viajar para comprar. E que, indo a Nova Iorque, se mete dentro de outlets impessoais e volta com malas recheadas e a alma vazia. Não viu nada, aproveitou coisa alguma e, do pouco que viu, ficou sem entender a maior parte.

As casinhas com telhado de pedra de Alberobelo, Itália. Já ouvistes falar?

PREPARAR-SE PARA O DESCOBRIMENTO

Hoje, mais do que nunca, é fácil aproveitar ao máximo qualquer passeio, qualquer viagem, qualquer escapada, mesmo que seja para municípios próximos. É fácil pesquisar na internet o que tem de interessante em cada lugar. E o que significa cada coisa. Estudar um pouco, antes de viajar, não tira pedaço, não é difícil e pode transformar uma viagem chata, numa série de descobertas fascinantes.

O pessoal que diz “não vou pra Europa porque lá só tem pedra velha e imigrante” certamente vai preferir Las Vegas, o paraíso fake, cheio de imitações, em fibra de vidro, das atrações originais. Cientificamente criada para exercer atração irresistível sobre otários endinheirados de cultura escassa. Que até pode ser divertida (como são divertidos os parques temáticos), mas não pode ser levada a sério.

O grande problema das viagens é o que elas têm em comum com as bibliotecas e com a internet: é preciso um mínimo de cultura e informação para poder tirar bom proveito. Quem nunca leu, nunca estudou e não tem curiosidade literária ou histórica, poderá ser colocado dentro da maior e mais importante biblioteca do mundo, que não saberá nem por onde começar. E acabará se perguntando “o que que eu tou fazendo aqui?”

Ocorre o mesmo com a internet, rede onde é possível acessar boa parte do monstruoso acervo cultural da humanidade. Mas, dependendo das limitações de cada um e da sua falta de curiosidade, no máximo conseguirá encontrar cantores populares no youtube e sites de pornografia. E ao viajar, se não temos interesse prévio em conhecer um pouco da história, da geografia, do mundo que iremos visitar, ao chegar lá acabamos não vendo graça, nem importância, em nada.

E até pode ser que acabemos fazendo aquela pergunta cheia de frustração: “o que que eu estou fazendo aqui?”

O parlamento britânico (com o Big Ben), visto da roda gigante (que agora é The Coca-Cola Eye), em Londres, UK.

SENTA, É RAPIDINHO!

Quando a gente mandava revelar as fotos e colocava as cópias, em papel, num álbum, parecia mais fácil apontar o álbum para as visitas e dizer “ó, são as fotos da viagem, se quiseres dar uma olhada”. Com algum interesse, ou por educação, a pessoa pegava o álbum dava uma folheada, comentava uma ou duas coisinhas e pronto. Tinha cumprido sua obrigação social.

Depois, com a chegada das câmeras de video, alguns mais ousados levavam os amigos para diante da TV e começavam a projetar horas e horas de video, a viagem quase em tempo real.

Ao procurar solução para isso, cheguei a algumas conclusões que considero importantes:

  • Mostrar as fotos numa tela ajuda a valorizá-las;
  • Mostrar muitas fotos, durante muito tempo, as desvaloriza;
  • Juntar fotos e videos, organizados em alguma narrativa, ajuda;
  • Estender essa narrativa por muitos minutos, atrapalha;
  • Usar algum fundo musical facilita a deglutição.

Em resumo: fica melhor mostrar o que vimos na viagem numa historinha curta, de poucos minutos, montada sobre algum fundo musical. “Ah, mas assim não dá pra mostrar tudo…”, exatamente, só quem viajou tem saco para ver todos os detalhes da viagem. Quem não viajou quer só dar uma espiada, pra ver se tem alguma coisa interesssante.

Neve na beira da estrada que leva ao Valle Nevado, nos Andes chilenos (perto de Santiago).

QUERES UM EXEMPLO?

Eu gosto de brincar com programas de edição de video. E depois de cada viagem reúno algumas fotos e videos e conto uma historinha curta. Naturalmente, os videos dos netos, que visito ao viajar, ocupam várias prateleiras. Mas esses são para consumo de um círculo familiar muito restrito.

Outro dia, pra descansar de um dia de trabalho, comecei a reunir os meios de transporte que encontrei em algumas das minhas viagens. Nada muito elaborado. Reuni alguns videos com movimento, poucas fotos, escolhi uma música (royalty free, pra não ter problema de direitos autorais) e juntei tudo numa espécie de mosaico de “transportation”. Olhaí como ficou.

Numa das visitas à cidade de San Francisco, na California, acabei enchendo alguns cartões de memória com fotos de suas casas de madeira com “bay windows”. Selecionei algumas e montei uma espécie de “slide show”, com uma musiquinha de fundo. Uma forma de mostrar fotos e chamar a atenção para alguns detalhes, sem (espero) cansar o espectador.

alguns muitos anos (em 2006!) fomos, Lúcia e eu, de Montevideo a Buenos Aires de aliscafo, o catamarã rápido de passageiros. Como pouca gente, dos nossos amigos e parentes, conhecia esse trajeto, resolvi fazer um pequeno video mostrando como era, pra facilitar na hora de contar. Espia:

QUANDO O PROGRAMA AJUDA…

Há muitos anos mudei do PC para o Mac. Trabalhando com editoração, projetos gráficos e coisas parecidas, tinha mais facilidade de uso, programas mais versáteis e um sistema operacional e uma máquina mais estáveis.

Um dos programas que faz parte do “pacote” básico dos computadores Apple é o iMovie. Um programa para editar videos bem fácil, intuitivo e que, mesmo com algumas limitações naturais num programa para amadores, permite resultados de qualidade profissional.

E, dentre as opções do iMovie, está a edição do que eles chamam de “trailers”. É uma brincadeira divertida: toda a estrutura, letreiros, música, está tudo pronto, a gente só precisa inserir os clipes dos nossos vídeos, para montar um “trailer”. É uma ótima forma de mostrar aspectos de uma viagem, sem cansar o espectador e até despertando alguma curiosidade.

É muito divertido fazer. Espero que vocês também se divirtam ao assistir.

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Cesar Valente Escrito por:

Jornalista e designer gráfico catarinense, manezinho, setentão. Ex uma porção de coisas, mas sempre inventando moda: a mais nova é o mestrado em Jornalismo na UFSC.