COMEÇAR DE NOVO

No dia 23 de maio de 2014, com o pretensioso título de “O fim de uma era”, comuniquei aos leitores do blog “De olho na capital”, que estava encerrando os trabalhos por ali. Reproduzo, abaixo, trechos daquele post, porque contam um pouco da trajetória online deste que vos fala, e que retorna, agora, para mais uma etapa.

Não sei se notaram, mas estão numa página cujo endereço é cesarvalente.com e que tem jeito de blog e cara de blog. A vida no facebook, twitter e instagram pode ser divertida e variada, mas quando a gente quer escrever um pouco mais e garantir acesso a quem quiser ver o que estamos publicando, ter um site próprio é importante. Em 2014 achava que não era mais necessário ter endereço próprio. Em 2019 mudei de ideia. Então, se colocares este endereço nos teus favoritos, poderás me visitar sem que algum algoritmo se intrometa e diga que outra coisa é mais relevante.

Sejam bem vindos. Esta casa ainda está em construção (com a ajuda do Pedro Valente) e naturalmente aceito palpites, pitacos e até críticas (ao contrário do governo tosco®, que não tolera que lhe apontem os erros). Por enquanto tem pouca coisa, apenas alguns artigos que estavam no Medium.com, mas com o tempo ficará mais ajeitadinha, com móveis e eletrodomésticos que a tornem mais confortável e acolhedora.

Ah, a fotona acima, feita pela Lúcia Valente, tem como cenário os pessegueiros em flor, do belo pomar que o Tarcísio Mattos mantém na sua bela pousada Pedras Rollantes, em Alfredo Wagner.

Abaixo, as reminiscências que trouxe do último post do “De olho na capital”.

O FIM DE UMA ERA (23/5/2014)

O dia do aniversário é ótimo para tomar decisões que estavam pendentes, aguardando uma dose adicional de coragem.

Vi hoje que o Alexandre Gonçalves encerrou o Coluna Extra, blog que ele mantinha desde 23 de maio de 2004. E aí resolvi seguir a corrente e também fechar este botequim. Por vários motivos, alguns dos quais explicados na crônica da Cora Rónai, que está abaixo. Para ver o post final e saber os motivos do Alexandre é só (clicar aqui).

Não é uma decisão difícil, nem deve causar surpresa. Esta ferramenta foi muito útil, muito interessante e ajudou bastante na popularização da internet como fonte de informação. Mas, como tantas outras, perdeu seu espaço e sua praticidade. A partir de hoje, portanto, quem passar por aqui não encontrará coisas novas, mas poderá consultar os arquivos, que ficarão abertos (como também estão na versão anterior do DONC, aqui).

BREVE HISTÓRIA DO BLOG

O primeiro blog que fiz, em 2001, era um blog militante. Os jornalistas da Gazeta Mercantil estavam em greve (na época eu trabalhava em São Paulo, na sede do jornal) e era preciso informar a todos do que ocorria, manter a mobilização e difundir rapidamente os comunicados e convites para assembléias. O blog foi um auxiliar importante. Não era, portanto, um blog pessoal, as notas não eram assinadas, mas ali aprendi a manejar e a administrar essa forma de contato com o público. Não consegui mais achar o leiaute da página, mas ainda tenho algumas charges que a gente publicou na época, denunciando as condições de trabalho (com salário atrasado) e algumas decisões esdrúxulas da justiça trabalhista, que parecia às vezes estar de mãos dadas com o (mau) patrão.

charge 1
Charge de 2001, publicada no blog da greve.

A greve terminou e fomos todos demitidos, por e-mail e telegrama. Com centenas de jornalistas na rua, atrás de frilas em São Paulo, achei melhor voltar para Florianópolis, onde pelo menos tinha casa quitada e não precisaria pagar aluguel. Aqui, para não enferrujar e continuar escrevendo, criei um blog, desta vez pessoal. O Carta Aberta, que tinha, como subtítulo, “uma espécie de livro de crônicas”. Foi a minha janela para mundo de 2002 a 2005. Não era um blog “jornalístico”, ou de política, era, apenas, uma espécie de livro de crônicas.

donc23-cartaberta2002
A “cara” inicial do Carta Aberta, em 2002.
donc23-cartaberta2005
A partir de 2003 o blog ganhou um leiaute mais caprichado

Em 2005, o Diarinho me convidou para fazer uma coluna de política estadual que tivesse o jeitão do… Diarinho. Aí larguei tudo o que estava fazendo, inclusive o Carta Aberta, e iniciei o novo projeto. A coluna no jornal era diária e aí não sobrava tempo para fazer outro blog. Resolvi então abrir um blog com o mesmo nome da coluna (“De Olho na Capital”), onde publicaria o que saiu na versão impressa. E assim tem sido, com algumas modificações e alterações (hoje a coluna do jornal é publicada apenas duas vezes por semana, por exemplo) mas, em geral, o que saiu no jornal está aqui. E tem várias coisas que foram publicadas aqui mas não estão no jornal.

donc23-donc2005
O primeiro leiaute do DONC, que durou vários anos.
donc23-donc2014
A “cara” mais limpa do blog, adotada em 2009.

TÁ COM SAUDADE? JÁ TEM O LIVRO?

Os primeiros dois anos deste blog (agosto de 2005 a agosto de 2007) foram muito divertidos e movimentados. A coluna era diária e acabei produzindo muito material. Tanto que achei que seria legal armazenar os “melhores momentos” em uma outra plataforma: em 2010 publiquei (em parceria com o Diarinho) o livro “De Olho na Capital: Os dois primeiros anos”. São 200 páginas de irreverência e bom humor que mostram como era a política estadual (e nacional) naquele período.

Capa do livro
Capa do livro com material do blog e da coluna

Obrigado a todos e todas que me honraram com a leitura neste espaço ao longo de tantos anos. Espero que possamos continuar amigos, em outros endereços.


Trago pra cá, já que estamos falando nessas idas e vindas dos blogs, um texto da Cora Rónai, de abril de 2014, que lido em 2019 levanta ainda mais dúvidas sobre que plataforma usar para informar e informar-se.

E os blogs pessoais, hein?

(Publicado em O Globo, Sociedade, 18.4.2014)

Por Cora Rónai

– Você abandonou o blog! — cobrou um leitor das antigas.

– Não é bem isso, — desconversei. — Só mudei de ritmo, deixei de fazer atualizações diárias, ponho menos fotos…

– Justamente: você abandonou o blog.

Não se pode discutir contra evidências: eu abandonei o blog, embora me custe reconhecê-lo e, ainda mais, confessá-lo. O “internetc.”, que nasceu em 2001, e que eu não conseguia explicar para ninguém naqueles tempos em que as pessoas já sabiam o que era um site, mas ainda não compreendiam o conceito do blog pessoal, é hoje apenas um repositório das colunas que escrevo para o jornal, uma forma simples de manter à mão textos dos quais eventualmente venha a precisar. Os mesmos textos existem no OneDrive e no Dropbox, mas, bem ou mal, ainda há resquícios de caixas de diálogos no blog, onde um que outro leitor deixa o seu recado.

o O o

Fazer um blog em 2001 exigia certa determinação. Eu escrevia para onze pessoas, em dias de muita repercussão dezenove. Nenhum dos meus amigos entendia o que eu queria com aquilo, já que eu assinava coluna no Globo e editava todo um caderno de tecnologia. Para que é que alguém com tantos leitores se dava ao trabalho de escrever para meia dúzia de gatos pingados?

Nem eu sabia muito bem.

O que me entusiasmava era a ideia da comunicação instantânea, mas como às vezes ninguém aparecia no blog, ficava no ar uma pergunta bastante pertinente: comunicação com quem, cara pálida?

Na melhor das hipóteses, com os outros autores de blogs. A comunidade era pequena, todos nos conhecíamos, e era de bom tom fazermos visitas uns aos outros. Até hoje tenho ótimos amigos desses tempos pioneiros.

Depois do fatídico 11 de setembro, que revelou ao mundo a existência dos blogs, veio uma época de ouro, em que muitas pessoas — mesmo algumas que nem tinham blog! — apareciam regularmente, liam, davam palpite, trocavam ideias entre si nas caixas de comentários.

Essas caixas eram todo um outro capítulo, porque não faziam parte integrante dos aplicativos. Eram bacalhaus escritos e mantidos por voluntários, que contribuíam para a “causa” pela mesma razão pela qual nós, blogueiros, escrevíamos: o prazer da experiência. Às caíam, às vezes nem entravam no ar, às vezes davam defeitos esquisitíssimos. Ninguém reclamava; fazia parte. Mas era graças a elas que a comunidade vicejava.

O “internetc.” tinha leitores tão simpáticos que passou a ser chamado de “blogtequim” nas internas; era um ponto de encontro e de boa conversa, onde valia qualquer coisa, menos gente agressiva e mal educada. Uma das regras básicas da casa, porém, é que as discussões tinham que ser pertinentes ao assunto em pauta, para não virarem uma completa bagunça. A exceção eram as fotos de gato, em cujos comentários o tema era livre. Nessas áreas é que, por vezes, rolavam os melhores papos, que iam de discussões filosóficas a reclamações sobre calçadas esburacadas, passando por indicações de profissionais especializados e receitas de bolo.

Nessa época, o cérebro dos blogueiros da ativa funcionava de modo curioso: em primeiro plano, realizava as funções habituais de qualquer ser humano; mas, por trás, só pensava no que daria ou não daria um bom post. Uma flor amarela! Um guarda multando um carro! Um assalto! Uma briga na esquina! Uma viagem! Um livro! Um filme! Uma topada! Um sorvete de caramelo! Tudo era virado, revirado e eventualmente aproveitado. Ou não.

o O o

Com o tempo, os blogs pessoais migraram, num movimento quase imperceptível, para o Facebook. Um dia um post que normalmente iria para o blog acabava no FB; no outro dia, mais um ou dois. Assim, antes que nos déssemos conta, o que antes chamávamos de blogosfera passou a ser rede social. O Facebook tem a vantagem de reunir, sob o mesmo teto, por assim dizer, todos os blogueiros que, nos velhos tempos, estavam espalhados pelos seus diversos blogs. Ninguém precisa mais sair à cata dos blogs alheios para ler o que andam pensando os amigos; basta ir para a página principal. Valeu a troca?


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Cesar Valente Escrito por:

Jornalista e designer gráfico catarinense, manezinho, setentão. Ex uma porção de coisas, mas sempre inventando moda: a mais nova é o mestrado em Jornalismo na UFSC.