O candidato “Teflon®”

Exatamente no dia 23 de setembro de 2008 (ano eleitoral, onze anos atrás), publiquei uma crônica, no Diarinho, falando das maravilhas antiaderentes do Teflon® aplicadas à politica. É um revestimento comumente encontrado na cara de pau dos políticos. Lembrei dela em 2018, ao ver que, aos eleitores do coiso®, não adiantava dizer nada. Antes, como agora, nada do que digamos “cola”. Estavam tão fissurados em derrotar Lula e o petê, que nada que o candidato escolhido tivesse feito ou dito, importava. Depois de eleito, continuam numa idolatria cega. O sujeito comete uma atrocidade atrás da outra, mas nada adere à sua imagem revestida e protegida por teflon® miliciano-pentecostal.

Mas vamos voltar um pouco no tempo, para ler o que saiu no jornal no dia 23 de setembro de 2008, com uma atualização (em tempo) publicada em 25 de outubro do mesmo ano (dia do segundo turno das eleições) no blog “De Olho na Capital”.

MAIS UM ESCORREGADIO CURSINHO DE
PSEUDO-CIÊNCIA POLÍTICA DO TIO CESAR

A história do Teflon® começa em 6 de abril de 1938, no Laboratório Jackson, da DuPont, em Nova Jersey, EUA. O químico Dr. Roy J. Plunkett, da Du Pont, estava trabalhando com gases relacionados com o resfriador Freon®, que é outro dos produtos da empresa. Ao conferir uma amostra comprimida e congelada de tetrafluoretileno, o Dr. Plunkett e seus companheiros descobriram que a amostra tinha polimerizado espontaneamente, formando um politetrafluoretileno (PTFE).

Roy J. Plunkett, inventor do Teflon®

O PTFE é inerte a virtualmente todos os químicos e considerado o material mais escorregadio existente. Essas propriedades o tornaram uma das tecnologias mais versáteis e valiosas já inventadas, contribuindo para avanços importantes nas áreas aeroespacial, comunicações, eletrônica, processo industrial e arquitetura.

A marca Teflon®, registrada pela DuPont em 1945, tornou-se um nome familiar nos lares do mundo todo, pelas suas propriedades anti-aderentes, associadas ao seu uso como revestimento de panelas e frigideiras e como proteção anti-manchas em tecidos e produtos têxteis.

O Dr. Roy Plunkett, falecido em 1994, é reconhecido pela comunidade científica internacional como um dos grandes inventores de todos os tempos, equiparado, por exemplo, a Thomas Edison e Louis Pasteur.

UM NOVO USO

No Brasil, a imprensa irreverente e desrespeitosa tem usado a marca Teflon® para identificar aqueles candidatos a cargos eleitorais que parecem ter sido recobertos pela prodigiosa película anti-aderente.

Quando um candidato, em plena campanha, recebe uma condenação do Tribunal de Contas da União e é obrigado a devolver R$ 500 mil e sua popularidade não é nem arranhada com o anúncio desse malfeito, podemos suspeitar que estamos diante de um candidato Teflon®.

A comprovação, no entanto, só virá se, por acaso, uma instituição como a Associação dos Magistrados Brasileiros informar publicamente que o candidato responde a cinco processos por improbidade administrativa. Se, mesmo com esse anúncio, as pesquisas não detectarem qualquer abalo nas intenções de voto, então, definitivamente, temos aí uma ampla cobertura de Teflon® no candidato.

Frigideira recoberta com Teflon®

O produto, como vimos acima, é prodigioso. É imune a praticamente todos os produtos químicos e é mais escorregadio do que limo no costão. Nada gruda, nada cola e quase nada o corrói.

O candidato Teflon® pode, sem grandes preocupações, mudar de partido a cada eleição, mesmo que no País tenha ocorrido uma discussão sobre fidelidade partidária e tenham sido estabelecidas punições para os infiéis. E, já que nada acontece com ele e sua popularidade, pode até se candidatar por um partido e ir ao município vizinho fazer campanha contra o candidato de seu próprio partido. O Teflon® o protege inteiramente.

Ao contrário do polímero da DuPont, porém, esse Teflon® alegórico que certos jornalistas metidos a engraçadinhos tentam sarcasticamente aplicar sobre alguns políticos, não é completamente eficaz, embora pareça. Funciona maravilhosamente com o eleitor distraído, que gosta de votar “em quem vai ganhar”. Mas há sempre o risco do excesso de confiança provocar um desgaste súbito da película anti-aderente, com resultados imprevisíveis.

EM TEMPO

O fato de ser protegido por uma camada antiaderente é, de certa forma, uma qualidade. E o candidato não tem nada que se envergonhar dessa propriedade, ao contrário.

Quando publiquei a crônica acima, uns torcedores mais exaltados do Dário (Berger, ex-prefeito, agora senador por SC) vestiram a carapuça (de Teflon®) e encheram minha caixa postal de comentários. Os mais simpáticos me chamavam de “jornalista Teflon®”. Naturalmente tentando me ofender. Mas, como considero o uso dessa película um avanço tecnológico em prol do bem-estar da humanidade, acabei foi ficando lisonjeado.

Outros, depois de xingar minha falecida mãe e dizer várias coisas impublicáveis, terminavam com uma espécie de grito de guerra: “os cães ladram e caravana passa”. Claro, uma caravana coberta de Teflon® desliza com facilidade pelos ambientes mais inóspitos.

E tinha aqueles que falavam, falavam, falavam, depois diziam que não deveriam dar atenção a “um jornalistinha que não tem mais que seis leitores”. Novamente, acho que queriam me ofender, mas acabaram me lisonjeando mais uma vez: afinal, se mesmo tendo apenas seis leitores dedicam tanto tempo e esforço pra me desqualificar, então é porque esses seis leitores são muito especiais. Provavelmente formadores de opinião.

Ah, isso de seis leitores é mentira: fiz as contas e só de primos tenho nove. Filhos (que eu saiba) três, mulher oficial, pelo menos uma e também devo contabilizar a pobre da revisora do jornal, que lê a coluna por obrigação, já temos aí uns 14 leitores. Se duvidar, é capaz de chegar a 20 (e dependendo de como for feita a pesquisa, poderei ter uns 30% de intenção de leitura)!

Em todo caso, espero que ninguém deixe de votar num candidato só porque sua popularidade não se abala com o que os adversários dizem ou anunciam. Cada um sabe de si e acredito que sejamos todos suficientemente espertos para poder avaliar o custo-benefício das nossas decisões eleitorais.

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Cesar Valente Escrito por:

Jornalista e designer gráfico catarinense, manezinho, setentão. Ex uma porção de coisas, mas sempre inventando moda: a mais nova é o mestrado em Jornalismo na UFSC.